domingo, 26 de junho de 2016

Bennie and the peppers

Arte da capa do álbum The Geataway - Fonte: site da Warner Music

A vantagem de dedicar boa parte de sua adolescência a um fanatismo (no meu caso, a uma banda) e colecionar matérias de revistas, fita cassetes e informações inúteis, mencionando-as constantemente como se todo mundo fosse compartilhar do seu interesse é que a partir de um momento você não precisa mais procurar.

Hoje, todo mundo que me conheceu na minha adolescência me avisa, me compartilha, me marca em conteúdo relacionado aos Red Hot Chili Peppers. E disseram que saber a data de aniversário da filha do Flea não ia me levar a lugar nenhum...

Pois bem, os Chili Peppers acabaram de lançar um disco novo e eu pude acompanhar o lançamento sem muitos esforços (with a little help from my friends, lógico) e com isso vi a arte da capa, li críticas do álbum, vi ações promocionais tudo antes de escutar as músicas com calma. E numa dessas li uma notícia bem empolgante: que uma das músicas teria sido em parceria com ninguém menos que Elton John e Bernie Taupin!

O tempo passou um pouco e o hype do álbum se transformou em hype do primeiro single, Dark Necessities, com clipe e tudo e eu mesma acabei esquecendo da parceria lá de cima. Até que finalmente fui ouvir o disco, novamente graças a um amigo e seu spotify sempre a postos, quando uma das músicas deixou nossas anteninhas em alerta:
     - Essa música não lembra...
     - Bennie and the Jets!

Corremos para ver se não era a tal parceria e foi tiro e queda.

Depois pesquisei um pouquinho sobre a história e pelo que me parece, quando eles perceberam a semelhança entre as músicas colocaram Elton e Bernie Taupin como co-Autores, além de chamar Elton John para gravar o piano do disco. Uma solução muito mais elegante que What I Got do Sublime que fica lá só sendo igual a Lady Madonna e pronto.

Se vocês ainda não sabem do que estou falando, tirem suas próprias conclusões com os vídeos abaixo, que pulam as introduções para comparação dos vocais:

Bennie and the Jets

Sick Love

Bom, radicais podem me julgar agora, mas sabem que acho que funcionou?

Ah, ok, sou parcial quando se trata de RHCP, mas achei que aproveitar essa melodia linda do verso de Bennie and the Jets com um refrão à la Can't Stop (ralentado, lógico) ficou ótimo. E com uma letra fazendo menção às terras de Oz (não é só o Elton que influenciou a banda), claro que ia virar meu xodó do disco.

Goobye yellow brick road, hello The Getaway.

domingo, 19 de junho de 2016

Winnie-the-Pooh


Ainda na minha deliciosa missão de ler os clássicos infantis e entender o que fizeram deles clássicos, trago aqui algumas notas sobre uma obra que de tantas versões pouca gente lembra que já houve um livro: Winnie-the-Pooh.

Sim, sim, estou falando sobre o Ursinho Puff, consolidado como personagem de desenhos da Disney. E me parece perda de tempo explicar que se trata das situações vividas pelos bichinhos (de pelúcia) do Christopher Robin, enquanto você provavelmente está aí decidindo se seu preferido era o Tigrão ou o Leitão. Mas, correndo o grande risco de soar repetitiva, em verdade vos digo: a leitura do livro de A. A. Milne proporciona sorrisos e até gargalhadas que se perdem nas adaptações.

As deliciosas ilustrações de Shepard, que veio a odiar o ursinho Pooh e o impacto em sua carreira, alegram a leitura

Como Carroll, Milne brinca muito com as palavras - suas sonoridades, a pluralidade de significados que elas podem ter... E isso naturalmente se perde em adaptações, e no mínimo exige muita criatividade dos tradutores. É o caso dos Efalantes e das Danonhas (Heffalumps e Woozles), representações de formas fofas que crianças falam algumas palavras longas e complicadas (no caso elefantes e doninhas). O sotaque britânico parece tornar essas misturas ainda mais frequentes e mais uma vez me vi lendo em voz alta para entender por que que quando o Christopher Robin chamou Pooh para uma expedition, Pooh respondeu "What's an Expotition?".

No mesmo capítulo os bichinhos saem pela floresta à procura do Pólo Norte (North Pole) e sem saber muito o que esperar, se dão por satisfeitos ao encontrar uma estaca (Pole, tipo Pole Dancing).

Where did you find that pole?

Lembro de ter aprendido no curso de inglês que a expressão "named after" era usada quando um nome era dado em homenagem ou referência a algo ou alguém. Eu ficava querendo forçar uma explicação de se usar uma palavra que significa depois dentro dessa expressão. Algo no sentido de "se meu nome foi em homenagem à Narizinho do Monteiro Lobato, meu nome só pode ter vindo depois do dela". Então "I was named after her". E assim memorizei a expressão, sem me preocupar com a veracidade da teoria.

Mas na ocasião não me toquei que essa estranheza também pode ser sentida por nativos da Inglaterra e suas colônias. Afinal, crianças também levam um tempinho para se adaptar a essas nuances das linguagens e por isso muitas vezes prendemos o riso quando vemos elas criando frases que, convenhamos, fariam bem mais sentido do que as gramaticalmente corretas. E Milne aborda esse caso específico de uma forma hilária quando Piglet (Leitão) está insistindo que o nome de seu avô era Trespassers W:
Christopher Robin said you couldn't be called Trespassers W, and Piglet said, yes, you could, because his grandfather was, and it was short for Trespassers Will, which was short for Trespassers William. And his grandfather had had two names in case he lost one - Trespassers after an uncle, and William after Trespassers.
A lógica infantil de Pooh também serve de ilustração para a Teleologia de Aristóteles, em que tudo na natureza possui um propósito que justifica sua essência. No vídeo abaixo, vemos Michael Sandel citar um trecho do livro em sua aula sobre o filósofo grego.


That buzzing-noise means something. You don't get a buzzing-noise like that, just buzzing and buzzing, without its meaning something. If there's a buzzing-noise, somebody's making a buzzing-noise, and the only reason for making a buzzing-noise that I know of is because you're a bee. (...) And the only reason for being a bee that I know of is making honey. (...) And the only reason for making honey is so as I can eat it.
Não só de gracinhas é feito o livro. As histórias transbordam uma sensação de carinho. Carinho do pai (narrador) contando as histórias para o filho (Christopher Robin), carinho do Christopher Robin pelos seus bichinhos, carinho dos bichinhos entre eles... E o que é mais lindo: tudo contado como fatos verídicos, sem aquele alerta chamativo de que você está prestes a entrar em um mundo de "faz de conta". Dá praticamente para visualizar o Bill Watterson relendo esses livros e se inspirando para Calvin e Haroldo... Mas uma paixão por vez, e outro dia volto para falar dessa duplinha por aqui.