quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Andres Carne de Res


Quem me pergunta o que tem de bom em Bogotá sempre ouve a mesma resposta: "não deixe de ir no Andres". Esse misto de restaurante-bar-night impressiona a todos que o frequentam com sua decoração esplendorosa e seus animadores.

"Animadores tipo festa infantil? Que tosco!" Bom, tosqueira não é exatamente um defeito do ponto de vista do Andres. A casa tem orgulho de ser kitsch, toda trabalhada no excesso e na combinação de itens rústicos e bem humorados. E fica o máximo. Talvez as fotos dos funcionários fantasiados não expressem a alegria contagiante do lugar, mas posso atestar que é bem difícil sair de lá sem um sorriso no rosto.


Sorriso após receber uma faixa de boas vindas de um animador

O Andres tem duas filiais: uma no centro de Bogotá (Andres D.C.) e a original, localizada na cidade de Chía - 10 km ao norte de Bogotá (Andres Carne de Res). Eu tive a sorte de conhecer as duas :)

Comecemos por Bogotá, já que é mais acessível para os visitantes dessa cidade.

Localizado no shopping El Retiro, na agitada Zona Rosa, a filial da capital recebe o nome D.C. em homenagem à Divina Comédia de Dante. A casa conta com quatro andares, cada um dedicado a um reino da Comédia: Inferno, Terra, Purgatório e Céu. A decoração mistura o pagão com o divino, anjinhos, diabinhos, etc.

Escadas conectando os reinos

O reino da Terra visto do Purgatório - desculpem as fotos tremidas!

O restaurante é cheio de sacadas: além da decoração que impressiona mesmo parecendo low cost, as mesas têm nomes em vez de números e as etiquetas com nome dos garçons ficam nas costas.


Corações alados sobrevoam as mesas que não têm números, mas nomes

Canos expostos são incorporados à decoração cheia de ferro e madeira

Uniforme fofo das garçonetes

Porque o momento em que a gente realmente precisa saber o nome do garçom é quando ele está de costas

A louça é um capítulo à parte: também toda rústica, os itens podem ser adquiridos como souvenir na lojinha. E faz o maior sucesso com as visitas em casa depois, além de trazer uma história para contar.


Prato rústico - o coração aparece frequentemente nas louças

Os enormes copos dos drinks parecem um côco aberto
Banda animando a galera e copos de "Mojito" à mesa

Mojitão



Se um dos temas do restaurante é o inferno e é bem sabido que diabo está nos detalhes, pode ter certeza que cada milímetro do restaurante é feito para tornar a experiência única.

As garrafas de bebida usadas para drinks são personalizadas, e as long necks levadas à mesa trazem borboletas em papel crepom. Mas não são quaisquer borboletas - são as "mariposas amarillas" do livro Cem Anos de Solidão do colombiano Gabriel García Marques.


Mariposas Amarillas do Gabo

Em Chía, temos a matriz Andres Carne de Res, inaugurada nos anos 80 e que hoje ocupa um espaço enorme na cidade.

Fui de carro com amigos que moravam lá, e antes do Andres demos uma esticada até a cidade de Cajicá, com uma estação de trem super fofa e lojas de tapetes bem em conta.

Meu amigo Maurício na estação de trem


Lojinhas

Diferentemente do Andres D.C., que fui num happy hour (se deixar para muito tarde fica lotado!), no Carne de Res fomos almoçar. Foi ótimo assim, pois deu para curtir bem os ambientes externos do restaurante.


Pode levar pra casa?

Mais corações

Mauricio em um dos acessos ao restaurante

O Che representando os fumantes do restaurante

Mesinhas ao ar livre

O Valet é um carrinho com placa e tudo

Dá fácil para perceber que o número de detalhes do Carne de Res é ainda maior que o D.C., transbordando informação. É difícil colocar legenda nessas fotos, se preparem para a enxurrada!









Simplesmente não dá para ficar quieto na mesa. Passear pela extensão do restaurante, de preferência com a câmera na mão, é imperativo.

Outro mojitão

Gláucia e Alexandre, queridos que levaram os turistas para passear!

Eu em um cantinho cheio de detalhes

 No mesmo espaço, mais tarde, teve apresentaçãozinha de dança das funcionárias.


Dancinha medieval?



Com tanto detalhe para mostrar, quase esqueci de falar da comida! Adorei comer lá, as carnes são excelentes, estilão churrasco argentino (parrilla) com acompanhamentos colombianos (arepas).


Carnes sendo preparadas... hmm!

Depois de algumas compritchas na loja, voltamos para Bogotá.

Mauricio também ganhou faixa

Tanta coisa divertida e gostosa que fica até difícil dizer qual filial eu gostei mais. Não deixem de conhecer!

Para visitar o site oficial do Andres, clique aqui!

Bônus - as lembrancinhas que comprei pra casa:

Potinho que usamos pra servir amendoim e gueriguéris



Copinho de shot no estilo rústico

Servindo o licor espanhol 'Cuarenta y Tres'




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Bonequinha de Luxo



No último mês de Julho a rede Cinemark reexibiu alguns clássicos do cinema, dentre eles o maravilhoso Breakfast at Tiffany's.

Depois de ver essa obra prima do Blake Edwards na telona, saí decidida a ler o livro que permitiu que um filme tão lindo acontecesse. Até para conhecer um pouquinho da obra do célebre Truman Capote.

Nem preciso dizer que é muito particular essa sequência de ver o filme antes de ler o livro que o originou. Os mais puristas devem se retorcer pensando nessa leitura enviesada, associando o texto a imagens do filme que diferem de uma imaginação ainda não maculada pela projeção.

E mais estranho que ver um filme que não corresponde às suas ideias dos personagens é constatar as diferenças lendo depois - sensação esquisita de estar diante de uma carta reveladora que vai te fazer relembrar os fatos com outros olhos.

Mas olha, adorei! Mesmo o livro despertando sensações totalmente diferentes do filme.
Claro, afinal o livro não tem trilha sonora do Henry Mancini, nem os trejeitos encantadores da Audrey. E não mesmo, porque a Holly Golightly do livro é uma loira de olho azul! E às vezes parece mais uma ~outra coisa~ de luxo do que a bonequinha mais recatada (bom, também não é pra tanto!) do filme.

Mas apesar de detalhes como esse parecerem cruciais, a semelhança entre os textos é impressionante.
Os diálogos do filme são réplicas exatas do livro, e ver no papel as excelentes tiradas da Holly e falas encantadoras de outras personagens me fizeram reviver momentos deliciosos da película e valorizar ainda mais essa escrita inteligente e cativante do Capote.

"It should take you about four seconds to walk from here to the door. I'll give you two."
"A girl can't read that sort of thing without her lipstick."

Por outro lado, o filme é desenrolado sem narração, de forma onipresente, costurando cenas de ambientes com ou sem a Holly, com ou sem os demais personagens. O que gera uma grande surpresa ao abrir a primeira página do livro e perceber que o livro é narrado em primeira pessoa pelo Paul! E ainda nessa mesma página vemos que os desfechos serão bem diferentes.

Toda essa diferença entre as obras me fez pensar em outro filme, "Miranda e Miranda" do Woody Allen. Não lembro de ter gostado muito não, mas tinha uma premissa bem bacana: contar a mesma história duas vezes - uma como um drama e outra como uma comédia. Mas a verdade é que essa sensação agridoce da obra já é prevista por Capote.


Capote te prende na trama. Desenvolve personagens cheios de imperfeições verossímeis (ciúme, vaidade, orgulho) porém repletos de particularidades charmosas e igualmente críveis. Mas para mim, é na escolha de palavras que ele conquista. Pelo menos é sempre assim que os autores me conquistam.

"There was a consequential good taste in the plainness of her clothes, the blues and grays and lack of luster that made her, herself, shine so."
"(...) she received V-letters by the bale. They were always torn into strips like bookmarks. I used occasionally to pluck myself a bookmark in passing. Remember and miss you and rain and please write and damn and goddamn were the words that recurred most often on these slips; those, and lonesome and love."

Apesar de diferenças de trama que eu não poderia detalhar aqui sem spoilers, uma diferença que mais me impressionou não interfere na trama. No livro, Holly não vai nunca tomar um café da manhã em frente à Tiffany's. Aquela cena lindíssima de abertura, que define a personagem da Holly em segundos - vivendo num caos com o mais alto grau de elegância - é cem por cento Blake Edwards.


Enquanto no livro, o título é uma brincadeira em cima das falas de Holly, que também a definem com êxito:

"I want to still be me when I wake up one fine morning and have breakfast at Tiffany's."
"If I could find a real life place that made me feel like Tiffany's, then I'd buy some furniture and give the cat a name!"

Fiquei pensando como seria o filme sem a cena do café da manhã. E cheguei a conclusão de que o livro é perfeito. Mas ainda bem que o filme é diferente.

Perfeito também.


domingo, 19 de outubro de 2014

Na Estrada - França


Desde a nossa road trip pelo oeste americano tenho vontade de vir aqui escrever sobre a experiência de dirigir no exterior. Mas como ainda estou devendo 99% dos posts daquela viagem, vou falar sobre pegar estrada na França antes mesmo de contar a experiência americana.

Como contei no post do roteiro do Vale do Loire, alugamos o carro no aeroporto internacional mesmo (Roissy CDG) e passeamos na região dos castelos para depois devolver o carro em Paris. Não pretendo entrar em detalhes dessa burocra, mas se você tiver alguma curiosidade sobre o processo de locação pode deixar sua pergunta nos comentários!

Depois da experiência positiva nos EUA, decidimos que além de alguns mapas impressos (feitos no Google Maps mesmo) nosso GPS seria o aplicativo de celular Waze (link para o site oficial aqui), conectado via 3G por um chip francês comprado numa lojinha do aeroporto. Isso nos garantiu um trajeto bem tranquilo, quase sem nos perdermos.

Também planejamos o número de dias na região com uma certa folga, o que permitiu a gente curtir a estrada e as cidadezinhas em que esbarrávamos sem muita correria.

Casinha fofíssima na cidadezinha de Santeny

Em alguns momentos estacionamos o carro para curtir o entorno, detalhezinhos das cidades de interior que os franceses chamam de "la campagne" (o campo).


Casinhas parecidas

Dirigir na França nos surpreendeu com algumas particularidades.

Um dos destaques positivos foi a educação dos motoristas na estrada, praticamente todos dirigindo à direita exceto no momento da ultrapassagem. ATENÇÃO: o mesmo não vale para o entorno de Paris! Direção extremamente agressiva na entrada e dentro da capital.

Outro ponto que facilitava nossa vida era a quantidade enoooooooorme de rotatórias, que fez a gente até brincar que estava de saco cheio de ouvir o GPS falando do próximo "Rond Point" (pronuncia-se rõn puãn), mas que era muito mais tranquilo de se achar sabendo que a saída era a segunda da rotatória. 

Direção tranquila no Peugeotzinho à beira do Loire

Nem tudo eram flores entretanto e alguns pontos exigiram nossa atenção.

Uma delas é até bem previsível - no país do torneio de ciclismo mais famoso do mundo, é bem comum encontrar esses esportistas na estrada, muitas vezes bem ousados, em trechos apertados e de difícil ultrapassagem.

Ceda a passagem - Ciclistas treinando pro Tour de France (ou não, sei lá)

Outro ponto que nos assustou foi a pouca quantidade de placas indicativas da velocidade máxima, ainda mais se comparar com os extremamente sinalizados EUA. É bom dar uma estudada antes de ir, pois para o cidadão francês já é meio subentendido que:
  • nas principais Autoroutes (aquelas nomeadas com A, tipo A6, A19...) o limite é 130 km/h
  • nas estradas de mão dupla com separação (por uma mureta ou algo assim) entre as mãos o limite é 110 km/h
  • estradas sem separação são a 90 km/h
  • dentro das cidades o limite é 50 km/h,
  • também vimos o limite cair para 30 km/h próximo a escolas etc. ou aumentar para 70 km/h em outros trechos.
Fonte: o que eu entendi do Código Rodoviário Francês (link para o site oficial aqui).
POR FAVOR me corrijam se eu tiver falado besteira.

Placa de limite de velocidade - momento raro da viagem

O mais tenso disso era quando encontrávamos um radar e não sabíamos qual era o limite.

Na dúvida andamos a 22 km/h dentro dessa cidade fofa, pelo menos não levamos multa

Uma pausa aqui para falar que essa cidade (Ligny le Ribault) parecia de brinquedo :)

Olha que fofura

Uma das sinalizações que os franceses devem considerar suficientes são os indicativos de entrada e saída da cidade, para você automaticamente associar que pode passar de 50 km/h para 70 km/h ou sei lá como funciona isso direito.

Placa indicando que saímos de Ligny le Ribault na estrada D 61 - o limite de velocidade está subentendido

Outra surpresa foi o sistema de pedágio, que se revelou bem inteligente no final.

Nas estradas que pegamos, a taxa era calculada em função da distância percorrida na rodovia. Assim, havia duas cabines de pedágio, como num estacionamento de shopping:
  • uma na entrada, em que você aperta um botão e recebe um cartão e
  • outra na saída, em que você insere o cartão e a máquina te diz quanto você deve em função de qual acesso de entrada e saída você pegou.
Ao passar na primeira cabine nos assustamos achando que sem querer tínhamos passado sem pagar! Mas depois entendemos o sistema e nos tranquilizamos.

Não tivemos problemas para pagar o pedágio com cartão de crédito, embora eu não saiba dizer se todas bandeiras são aceitas. Mas também não há empecilho em pagar em espécie, sejam notas ou moedas.

Atenção: as vias marcadas com uma letra t laranja são para quem tem télépéage - dispositivo de pagamento de pedágio via ondas captadas por uma antena, como os nossos Via Fácil, Passe Expresso e outros. Veja animação demonstrativa no site autoroutes.fr.

Depois que deduzimos essas particularidades, foi só apreciar a paisagem: árvores e flores lindas da primavera, alguns trechos ainda com árvores sem folhas (se recuperando do inverno), animaizinhos, rios, castelos e cidades fofas.

Tons de rosa nas árvores que beiram a estrada da cidadezinha

Árvores exuberantes na floresta de acesso a Chambord

Resquícios invernais sob um céu de primavera

Fizemos amizades com uns bovinos peludos no caminho (alguém sabe que bichinhos são esses?).

Muuu

Tchau, amiguinhos

O trecho da estrada que era à beira do Loire foi especialmente agradável, pela linda vista do rio e por castelos aleatórios que apareciam em nosso caminho.

Wherever you're going, i'm going your way

Castelo não identificado à beira do Loire

Por estarmos em uma época em que o anoitecer acontecia pelas 20h30, tínhamos a vantagem de apreciar a luz de fim de tarde na estrada, após o fim das visitas dos castelos.

Luz lindona em Villandry

Noite ensolarada

Por fim, não poderia deixar de falar dos campos de Colza (planta responsável pela produção de óleo de canola).

Se no verão da Provence ficamos apaixonados pelos campos de Girassol e Lavanda, na região do Loire na primavera eram os mares amarelos das flores de Colza que alegravam nosso passeio.

Sabe quando a paisagem parece fundo de tela automático do Windows?

Colza em fast forward

Perturbei o Be para saltarmos e fotografarmos, mas era difícil encontrar local que desse pra encostar o carro e que fosse perto o suficiente dos campos para fotos legais.

Momento 1 de sair do carro para ver os campos

Momento 2 de sair do carro para ver os campos - sol forte na cara

Mas era na beira das rodovias que os campos atingiam sua beleza extrema. Ponto alto de pegar a estrada!


Vontade de dirigir sem rumo.

Retrovisor amarelado