segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

There's no place like Oz

Capítulo um e a linda ilustração de Denslow

Desenvolver uma série de novos "contos fantásticos" em que os estereotipados gênios, anões e fadas são eliminados, junto com os incidentes trágicos e derramadores de sangue de Grimm e Andersen, utilizados para demonstrar uma moral amedrontadora para cada conto. O intuito de L. Frank Baum em escrever os contos ambientados em Oz, iniciados pelo célebre The Wonderful Wizard of Oz parece pretensioso e audaz, mas uma vez que acompanhamos as aventuras na terra de Oz vemos que ele é bem sucedido no que deseja alcançar.

Diferentemente do que se vê muito nos dias de hoje com as versões esterilizadas dos contos de fadas que alteram os finais e eliminam as partes mais sanguinolentas ou modificam livremente os textos para que fiquem mais politicamente corretos, Baum cria um novo mundo, novos personagens, e reúne em um só livro pequenas anedotas com finalidades morais ligadas por uma trama maior.

Introdução de Baum declarando suas intenções para a obra

Baum aproveita muito da forma dos contos que deseja 'reciclar', principalmente as aventuras enumeradas de três personagens enfrentando uma mesma situação como nos inúmeros contos de Grimm que se iniciam por "Era uma vez três irmãos...". Mas enquanto nos contos de Grimm os irmãos mais velhos servem apenas para contrastar a atitude inovadora e afortunada do irmão mais novo, no livro de Baum os três personagens que Dorothy encontra no caminho (Espantalho, Homem de Lata e Leão) se alternam no papel de solucionador, mostrando como de acordo com a situação cada um pode ter sua utilidade. O que também tem bastante de outro conto de Grimm, Os Músicos de Bremen - popularizados no Brasil pela versão politizada Os Saltimbancos e as músicas de Chico Buarque - em que a alternância e combinação das particularidades do burro, do cachorro, do galo/ da galinha e do gato/ da gata é o que garante o sucesso do grupo como um todo.

Dorothy, Toto e seus três companheiros

E aí entra provavelmente o aspecto mais interessante do "Mágico de Oz" - acompanhar a evolução e amadurecimento dos personagens na jornada em busca da Emerald City e do próprio Oz, de quem conhecemos poucas características até mais da metade do livro. É quase como se o personagem que intitula o livro fosse irrelevante para a trama (não é, mas também não quero estragar a história para os poucos que querem ler o livro e nunca viram o filme com a Judy Garland) como no artifício de trama intitulado MacGuffin, em que um objetivo, personagem ou objeto de desejo funciona como motivador de sacrifícios e aventuras, porém que nos permanece como misterioso e indefinido - nesse caso por boa parte da trama, enquanto nos exemplos emblemáticos o mistério permanece até o final da história.

E nesse meio tempo somos apresentados à terra fantástica de Oz, subdividida quase que numa manifestação de TOC entre terras do Norte, Sul, Leste e Oeste, cada uma com seu povo, sua cor representativa, seu castelo, seu líder (bruxas más no Leste e no Oeste e bruxas boas no Norte e no Sul), todas igualmente isoladas do mundo que conhecemos por um deserto que "nenhum homem jamais atravessou".

Munchkins encantados com Dorothy

O texto, definitivamente mais clássico que meu xodó Peter Pan, também traz muitos charmes. Além da eterna frase "There is no place like home", explicando nossas afeições contra-intuitivas pelo familiar, Baum retrata a reação às novidades, tanto de Dorothy quando dos povos de Oz, de uma forma pueril que torna impossível para o leitor não sorrir ao longo da leitura.

It is fortunate for Kansas that you have brains

Assim, fica aqui minha recomendação de seguir os passos de Dorothy pela estrada de tijolos amarelos para concluir que, como disse o Homem de Lata, "Oz was not such a bad wizard, after all".